terça-feira, 15 de julho de 2008

Auto-imunidade

Só quem é auto-imune sabe a loucura que é ter um corpo que briga consigo mesmo. Uma sensação meio esquizofrênica, que se for procurar direito nos anais da psiquiatria ou psicologia, ou até psicoterapia vai ter um freudiano pronto para dizer que a auto-imunidade reflete algum bloqueio ou trauma do passado, de origem sexual, de preferência reprimida.

Assistindo um daqueles programas americanos, estilo documentário, estilo jornalístico, mas que trata de casos estranhos, doenças esquisitas e raras - mais frick show que notícia - fiquei pensando se auto-imunidade pode mesmo ser confundida de forma tão rasteira com auto-punição.

Sem querer entrar no mérito religioso da questão e nem discutir crenças espirituais e cármicas, tem muito teólogo debatendo sobre os deveres, obrigações e resgates de vidas passadas e como não sou versada em religião, embora acenda minhas velinhas, prefiro encarar a questão à luz da razão e daquilo que, como auto-imune, entendo sobre ter as próprias células jogando no time adversário.

O programa americano, que não lembro o nome e nem o canal fechado onde estava passando, mostrava uma doença dessas bem raras, são apenas 500 casos no mundo descritos pela literatura médica. O portador dessa síndrome sofre um processo de calcificação dos tecidos e das articulações. Em estágio avançado da doença, explicando a grosso modo, a pessoa fica com o corpo rígido, transformado todo em ossos ou pelo menos no material que compõem os ossos.

Uma jovem mostrada no programa havia perdido quase todos os movimentos do corpo, mas ainda assim mantinha a esperança de que a cura para o seu problema seria encontrada e que ela iria concluir a faculdade, casar e viver uma vida dita "normal".

Olhando as bochechas rosadas da moça tetraplégica fiquei me perguntando: Como alguém assim, tão cheia de esperanças e planos, tão ansiando por futuro, pode estar somatizando alguma culpa reprimida?

Não tenho a resposta final, mas estou empenhada em refletir a questão. Não descarto explorar com mais detalhes as teorias psicológicas que explicam a somatização de doenças. Admito que existem situações realmente estranhas de explicar como a gravidez psicológica. Considero até aprender mais sobre religião, carma e darma. Mas ainda assim, fica sempre aquela pulguinha atrás da orelha e começo a trazer o problema para dentro do meu espelho. "Estou me punindo por alguma coisa dessa vida ou da outra? É falta ou excesso de auto-estima?" Minha resposta, pelo menos até o nomento, é não.

Entendo que os auto-imunes perderam a loteria genética. Dentro das trilhões, zilhões de possibilidades de combinação dos cromossomos paternos e maternos, alguma coisa saiu fora do padrão considerado normal. A ciência não sabe explicar mas corre atrás das causas, a religião conjectura suas explicações cármicas, a psicanálise investiga o subconsciente, e auto-imunes como a moça americana de bochechas rosadas, vivem, sonham e brigam dia após dia contra a teimosia das próprias células, dispostas a comprar o passe de todas elas e trazê-las para o lado de cá do gramado.

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