segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Deuses Americanos - fim da linha

"O inverno enlouquece os deuses".

Dizem que nossas leituras nos mudam. Talvez a mudança não dure para sempre. Só o tempo de viajar em outro livro. O que me fascina na leitura, desde criança, é essa capacidade de viver várias vidas dentro de uma só. Lendo Deuses Americanos, de Neil Gaiman, me senti um pouco Shadow, o ex-presidiário que percorre as estradas dos EUA buscando a si mesmo; Laura, a morta-viva que tinha mais vida dentro de si do que os vivos jamais conseguirão ter; Odin - o pai de todos, o deus que não faz concessões; Czernobog, cinzento no inverno e dourado na primavera. Difícil não perceber cada um deles dentro de mim. Mais difícil ainda largar o livro após o ponto final, mesmo que tenha outro na fila. Leitores compulsivos e dotados de muita imaginação, por mais que acumulem camadas de leitura por cima de camadas de leitura, como o gelo sobre o lago de Lakeside, sempre guardam resíduos. Estou impregnada por frases, por diálogos inteiros, por reflexões sobre esse mundo mitológico criado por Gaiman em que deuses são homens como nós, se arrependem (alguns pelo menos) e morrem. Deuses velhos, tão antigos quando a Terra, duelam com os novos (a cultura pop, as drogas psicodélicas, a mídia, as celebridades de 15 minutos de fama). Vencedores e perdedores? Ora um lado, ora o outro. A balança precisa se manter equilibrada. Não somos o brinquedo dos deuses, eles não interferem no nosso destino. Nós os criamos, eles existem porque nós queremos. Somos nós os deuses. Não é á toa que os gregos atribuiram a cada criatura mágica do seu panteão uma fraqueza humana.

Aos interessados em saber mais sobre a obra, o link é este.

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