terça-feira, 21 de outubro de 2008
Pergunta que não quer calar
Alguém pode me dizer, pelo amor de Deus, no que o fato do pai de Eloá Cristina ser um foragido da polícia altera o destino dessa criança de 15 anos, morta com uma bala na cabeça, implantada por um namorado passional, de 22 anos - provavelmente outra criança corrompida e adulterada pelo machismo arraigado da nossa sociedade? Alguém pode me explicar, oh Deus! dê-me o dom do entendimento -, qual o objetivo da polícia em desviar o foco da cobertura da mídia da morte dessa criança para os crimes cometidos pelo seu pai? Será que os jornalistas que estão cobrindo o caso não entenderam que ao jogar holofotes sobre a ficha suja do progenitor da menina morta, muda-se descaradamente o foco da cobertura dos mal explicados erros da operação desastrosa do resgate de Eloá? A polícia, como sempre, marca pontos sobre a imprensa. Oferece outro escândalo, prato cheio para manchetes. Enquanto isso, "abafa o caso", ninguém precisa refletir sobre a nossa mal-preparada força policial, sem sangue-frio, serenidade, psicologia, ou que nome tenha, para negociar com seqüestradores e maníacos em geral. Alguém fez a conta sobre quantos sequestrados em situação semelhante à vivida por Eloá sobreviveram e quantos morreram porque a polícia fez tudo o que era possível, menos ter impedido que o seqüestrador surtasse e metesse um projétil na cabeça desse refém? Eloá Cristina, 15 anos, longos cabelos negros batendo nas costas, que começou a namorar aos 12, quando deveria estar brincando com a Barbie, certamente porque enquanto seu pai fugia da justiça e a mãe ganhava o sustento da casa, não sobrava ninguém para educá-la, está morta, enterrada, brevemente esquecida. Peguem a calculadora e somem quantas eloás existem neste país, namorando aos 12, parindo aos 13 e morrendo nas mãos de seus maridos-namorados-algozes antes dos 20. É preciso elevar a combalida audiência, portanto, desculpe Eloá, você é notícia de ontem, e o seu pai agora é quem vai ajudar a vender jornal.
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2 comentários:
afora a revolta contra o "machismo"... fantástico! brilhante!
c
Adorei!
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