Da série, histórias que a minha mãe conta
Minha mãe nasceu em 1935. Nossa diferença de idade é o motivo pelo qual tenho um livro de histórias humano, falante, risonho e com cerca de um metro e cinqüênta e sete de altura, dentro de casa. As histórias que ela conta me revelam o mundo em cores que nenhum livro conseguiria criar, por mais criativo que seja seu autor. Dia desses, ela me contava que era uma moça rebelde, nos idos da década de 50, quando a boa educação - ditada pelo patriarcalismo, machismo e outros ismos da nossa sociedade - mandava que as moças fossem muito obedientes, muito recatadas, muito submissas. Como todo taurino que se preza, ainda mais uma que está bem na cúspide de Touro com Gêmeos, minha mãe pode ser um pouco de tudo, menos submissa. Ela me contava que aos 19 anos, morando no interior, filha de um dono de alambique que trazia as meninas na rédea curta e soltava os meninos-homens como bons predadores pela vizinha (a frase preferida do meu avô era "prendam suas novilhas, porque meus garrotes estão soltos", daí vocês tiram o tipo de homem que ele era, fruto do seu tempo), ela decidiu que queria trabalhar. Discute dali, discute daqui, eu vou, você não vai...meu avô dispara essa pérola do anedotário "machão do interior": "Você tem é de casar, ter filhos, cuidar do seu marido, moça direita faz assim". Minha mãe, que apesar de pequena é aguerrida desde nova, bateu o pezinho tamanho 35 no chão e revidou: "Papai, meu marido é o meu dinheiro. Eu sou independente, não vou ficar na sombra de homem nenhum". E não ficou mesmo. Criou duas filhas sem ficar na sombra do pai delas.
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