terça-feira, 25 de novembro de 2008

Saramago já disse tudo...

Pensei no que deveria escrever hoje. Não que falte assunto. Sobram tantos que fica difícil escolher. Dos auto-biográficos aos arremedos de crônica da velha Salvador, - a província que se veste com roupas modernas, mas continua tão colonial quando da chegada de Thomé de Souza e seus jesuítas -, sempre há o que dizer.

O dia foi farto em acontecimentos no meu microcosmo jornalístico. O mundo desabou e foi reconstruído centenas de vezes ao longo da manhã e de boa parte da tarde. Em casa, um futuro cientista estuda dinossauros. Envolvida nas suas descobertas infantis, tenho a confirmação daquilo que já sabia: a manhã e a tarde passaram, assim como passaram todas as pequeninas dificuldades vividas nos dois turnos em que o sol tentou, a todo custo, brilhar por trás das carregadas nuvens da chuva de verão que lava a capital e o juízo, ou a falta dele, dos soteropolitanos.

Queria falar da baiana que foi deportada de Londres. Apesar de ter passagens para retorno previamente agendado ao Brasil, tios radicados e dinheiro suficiente para provar que, do alto dos seus 18 anos e muitos hormônios à flor da pele, não estava na velha Inglaterra para rodar a bolsinha nas antigas pontes sobre o Tâmisa, mandaram a menina de volta, sem direito a trocar nem o absorvente. Mas quem sou eu para falar de deportados, quando Saramago viveu constrangimentos na hora do embarque, em Portugal. O detalhe é que ele estava vindo para o Brasil.

Também queria falar sobre a chuva que já matou dezenas em Santa Catarina, mas diante das palavras de um dos maiores escritores do mundo, com a sorte de estar vivo e poder ser adorado em carne em osso, minhas palavras seriam apenas, palavras. Apesar da saudade de Florianópolis, o paraíso onde eu gostaria de viver, nunca conseguiria falar de uma tragédia brasileira da mesma forma que Saramago.

Imaginei escrever sobre a arte de blogar, que eu descobri há menos de um ano. Ainda sigo tateando pela rede, guiada pelo instinto mais do que pelo conhecimento técnico. Só que, José Saramago, mais uma vez, passou na minha frente. E com muito mais méritos: um Nobel, 86 anos de vida e Ensaio sobre a cegueira.

Resta-me dizer aos que tentaram acizentar meu dia, que eles fracassaram no intento. A luz está do lado de dentro e nada do que venha de fora vai conseguir apagar a chama.

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