terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Sobre medo e refugiados sociais


"Ações do governo dos EUA e seus vários satélites mal disfarçados de instituições internacionais como o Banco Mundial, FMI, OMS geraram produtos colaterais perigosos, o nacionalismo exacerbado, o fanatismo religioso, o fascismo e o terrorismo". (Arundhati Roy).

A frase que faz refletir é citada pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, no seu livro Tempos Líquidos. Dei uma pausa na leveza de Haroun para ler essa obra - cento e poucas páginas - valiosa para quem quer entender o mundo pós 11 de Setembro. A verdade é que o colapso da nossa sociedade começou bem antes do desabamento das Torres Gêmeas e Bauman mostra o passo a passo dessa tragédia cotidiana de dimensões mundiais. "Países em desenvolvimento, os retardatários da modernidade, geraram centenas de refugiados sociais". Não há mais terras à colonizar e quem está em franca expansão nesse momento da história, precisa empurrar a sua miséria para baixo do tapete. O "lixo humano", o excedente populacional não absorvido pelo capitalismo, pressiona as assépticas fronteiras dos estados prósperos e o resultado é o que se vê nos noticiários.

Estou na metade do livro, terei muito sobre o que pensar e o que escrever. Por ora, mais um trecho que vale mandar gravar em placa de bronze, na vã tentativa humana de eternizar o perene: "Numa era em que as grandes idéias perderam credibilidade, o medo do inimigo fantasma é tudo o que restou aos políticos para manterem seu poder". É conveniente manter o "lixo" acumulado. Finalmente e (in)felizmente entendi o sentido daquilo que o capitalismo chama de reserva de mercado.

Em outro trecho, Bauman cita Alexander Hamilton e resume em palavras muito mais cultas e profundas, o que eu realmente penso de guerras como a que se desenrola na Faixa de Gaza.

"A violenta destruição da vida e da propriedade inerente à guerra, o esforço e o alarme contínuos resultantes de um estado de perigo constante, vão compelir as nações mais vinculadas à liberdade a recorrerem, para seu repouso e segurança, a instituições cuja tendência é destruir seus direitos civis e políticos. Para serem mais seguras, elas acabam se dispondo a correr o risco de serem menos livres".

Lembrei da população afegã saudando os talibãs antes que a promessa de liberdade trazida por eles se convertesse em morte, perseguição e intolerância. Lembrei ainda de um ditado popular: "Quando as armas falam, a lei silencia".

5 comentários:

turbina de ideias disse...

Hannah Arendt, pensadora alemã, deixou uma dúvida. Ela lançou a seguinte questão: o que surgirá de baixo do cadáver capitalista, a barbárie ou o socialismo? O cadáver está aí,em pleno sec XXI, exposto e fedendo, inclinando-se pra barbárie. E olhe que esta visão não tem nada de apocalíptica. Deixa uma saída: o socialismo.

Andreia Santana disse...

Exatamente, concordo que o socialismo seja uma saída, principalmente se a inspiração, sem nenhum desvirtuamento, for humanista e solidária. Vamos ter fé que enterrem logo, ou que os urubus terminem de banquetear-se com o cadáver.

Ari Donato disse...

Dréia, fui buscar, e beber, um pouco de estilo, lendo Comentários sobre a Guerra Gálica (De bello gallico), de Júlio César, e vi que o massacre vem de longe e que lá, também, ficou um cadáver. Quanto ao socialismo, não me convenceu ser humanitário tal qual é pregado. Assim, o capitalismo ainda me satisfaz.

Andreia Santana disse...

ewNão sei se o socialismo atual - em muitos casos nem um pouco solidário - me satisfaz Ari, porque muito se perdeu no caminho. Talvez o socialismo em que acredito só exista nos livros, mas ainda tenho esperanças...

Ari Donato disse...

Esperanças, idéias e sonhos conduzem a Humanidade. Também espero o melhor, sonho com isso, minha amiga. Beijos.