terça-feira, 19 de agosto de 2008
Crime que não merece perdão
Uma estudante da Universidade Federal da Bahia foi estuprada hoje quando andava no Campus da instituição. Foi abordada por um homem armado e toda a ação, segundo a imprensa local, durou cerca de uma hora e meia. Nesse meio tempo, quem viu o crime, não deu socorro, por medo de levar um tiro. Quem não viu, deveria ter visto, porque se a Ufba tivesse segurança, se todos os caminhos que interligam uma unidade de ensino a outra fossem monitorados, certamente essa moça não teria agora de conviver com as marcas de tamanha violência. Além da falta de guardas, inexiste manutenção na sucateada universidade baiana. Prédios subutilizados, matagal por todos os caminhos de acesso dos estudantes até suas faculdades, iluminação zero. A Ufba desmorona dia após dia e vive das glórias passadas, da famosa Era Edgar Santos, do sopro de modernização das suas origens e que não passou justamente disso, de um sopro. Fico revoltada como ex-aluna com o tamanho do descaso do Governo Federal, da reitoria, da sociedade, que comemora cada vez que um filho da classe média falida é aprovado para o vestibular de uma das unidades da Ufba, mas que é incapaz de comprar a briga dos estudantes pobres que tentam reerguer a velha instituição decadente á custa de protestos, faixas e cartazes que lembram uma época romântica e engajada esquecida há muito. Fico mais revoltada como mulher. Porque a violência sofrida pela estudante podia atingir qualquer uma de nós, mulheres que andam de ônibus ou que, na saída de um cinema, podem ser rendidas por um doente em pleno estacionamento de um shopping center - tão deserto quanto as escadarias da Ufba - e forçadas, invadidas, violentadas. Me pergunto quem deu o direito aos homens de forçar uma mulher a ter sexo com eles. Para o assaltante, não basta levar a bolsa, o celular? É preciso também humilhar, subjugar e submeter a vítima ao abuso? E aqueles que não são assaltantes e que saem com o objetivo claro de atacar mulheres. Há menos de uma semana, a irmã de uma conhecida foi atacada na saída da aula, dessa vez de uma faculdade particular. Façamos justiça, não é só a Ufba que carece de segurança. As escolas particulares, as ruas da cidade, os estacionamentos dos estabelecimentos comerciais. É fatalista dizer: mas não estamos seguras em lugar nenhum. A policia, quando a aluna da faculdade particular foi prestar queixa, disse que era a segunda denúncia de estupro que recebiam nas mesmas imediações em um curto espaço de tempo. No caso da Ufba, o estuprador está foragido. É capaz de um dos dois fazerem novas vítimas antes de serem capturados. Ainda assim, com a superlotação das celas das delegacias, não devem ficar muito tempo presos. E nós, mulheres, o que nos resta fazer? Deixar de ir à escola, ao trabalho, ao lazer? Ficar presas em casa? Usar burqas para não chamar a atenção das mentes doentias que circulam por aí? Quem deu aos homens o direito de forçar uma mulher a ter sexo com eles? Quem lhes deu autonomia e ingerência sob a sexualidade feminina? A sociedade patriarcal e machista que julga que uma mulher que passa cantada em homem é vagabunda? E que justifica o estupro com frases do tipo: "ela estava de mini-saia e deve ter dado vacilo"? Onde está o bom senso da sociedade para não entender que o estupro ainda acontece porque é fruto de uma cultura milenar de dominação da mulher? Da tentativa de humilhá-la e mantê-la refém até da segurança pública! Estupradores merecem a morte, por mais que seja politicamente incorreto defender pena capital. Estupradores deviam ser executados, pois seu crime não merece perdão.
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Um comentário:
O estupro é um dos mais hediondos crimes que infelizmente ainda acontecem. É hediondo porque é, acima de tudo, bárbaro, selvagem. É o mais completo desrespeito ao sentido básico que precisamos para construir a civilização que é o respeito à dignidade humana. Roubos e até mesmo assassinatos podem eventualmente ser defensáveis, em determinadas situações, mas não o estupro. E, colocando-se de lado o terrível trauma sofrido por essa menina, o pior é a certeza de que a incompetência do Estado que nos governa não vai impedir que isso volte a acontecer.
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