sábado, 23 de agosto de 2008

Olimpíada é para vencedores


Quantas medalhas de ouro são necessárias para demonstrar a supremacia de uma nação? Hitler já se questionava em 1936, embora o corredor norte-americano Jesse Owens tivesse jogado areia na brincadeira do terceiro reich. O objetivo naquela época era o mesmo de hoje, demonstrar o poder, o desenvolvimento, a tecnologia, a evolução de uma nação através da superação de obstáculos por seus atletas. A lógica é bem simples, atletas vencedores representam países vencedores. Se fosse diferente, nada justificaria a obsessiva corrida por medalhas, douradas de preferência, e pela quebra de recordes. Enquanto os Estados Unidos contabilizam mais de uma centena de medalhas, de ouro, prata e bronze, a China vangloria-se de ter batido a própria marca na conquista das insignias áureas. Faz sentido, na falta da União Soviética, restou a China na outra ponta do cabo-de-guerra disputando medalha a medalha, o poder econômico global com a América do tio Sam. Enquanto isso, o Brasil, ou "bronzil" como apelidou um colega de redação, corre por fora e garante meia dúzia de galardões, a maioria com os atletas alcançando o terceiro degrau do podium. Para mim, particularmente, um feito e tanto. Ser o terceiro melhor do mundo em um esporte é um feito fantástico, ainda mais num país onde os atletas precisam treinar e ter uma segunda profissão que garanta o pagamento das contas; onde salários milionários só existem para meia dúzia de jogadores vendidos aos 16 anos para times estrangeiros e onde o governo não investe nem em saúde, nem em educação, que dirá em esporte. Mas descobri que brasileiro só é solidário na vitória e extremamente cruel nas derrotas. Dois dias atrás, a nação de perdedores reclamava nos pontos de ônibus, repartições públicas, filas de cinemas que "tivemos a pior olimpíada da nossa história. Fiasco total". Diante do mar de bronze, o barquinho dourado solitário do nadador César Cielo significou muito pouco. Mas bastou Maureen Maggi saltar um centímetro a mais que a colega russa e as meninas do vôlei faturarem o primeiro degrau (do podium) e agora já temos "a melhor campanha olímpica". Bem fez a agência publicitária responsável pelo marketing de um dos bancos federais, tascou todos os ginastas nacionais no cartaz, cada um numa pose, digamos, grega, para fazer jus aos inventores da Olimpíada, e logo abaixo a legenda: "Parabéns à equipe de ginástica do Brasil por ter alcançado o melhor resultado do país em jogos olímpicos". Talvez alguns atletas, sobretudo do futebol masculino, tenham perdido patrocínios de marcas estrangeiras, principalmente americanas, para quem "second best is never enough". De resto, vamos aguardar Rio-2016. Na onda de modernizar o país para receber as delegações mundiais, pode ser que o caminho do desenvolvimento real e não olímpico, seja finalmente traçado nesta nação de dimensões continentais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quantas medalhas são necessárias para tapar os olhos nacionais?

Olhos que derramam lágrimas a cada quatro anos pelas conquistas isoladas de atletas que levaram seus esforços ao limite.

Olhos que derramam lágrimas diariamente pela violência na rua envolvendo jovens que poderiam estar, por exemplo, praticando esportes e disputando a tal medalha de quatro em quatro anos...

Por aqui, medalhas não precisam para fechar olhos. Por aqui, os olhos já não parecem nem abrir ao cantar do galo todas as manhãs...

Por aqui, já as lágrimas resistem em descer... e tudo vai parecendo tão normal, tão normal...

A cada quatro anos penso que não precisamos de medalhas tanto quanto precisamos de olhos. Bem abertos.

E coração, e amor ao próximo... pra fazerem as lágrimas voltarem aos olhos. E quem sabe assim, comecemos a ganhar outro tipo de medalhas... estas que teremos ainda mais prgulho de exibir no peito...
Alane.