quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Recomeço

Há dez anos não escrevia sobre cinema. Quebrei o jejum por causa de um filme que me balançou, me tirou do eixo e me fez repensar muitas coisas. Para quem é fascinado no mito da fênix como eu, filmes como Ao Entardecer, que evocam recomeços, sempre causam impacto. Reproduzo abaixo o texto postado no Cineinblog.


Para perder o medo do passado

Andréia Santana

A ficção, em determinos momentos, provoca nas nossas vidas certas reflexões que parecem simples, óbvias, mas que a velocidade e dureza do dia-a-dia não nos permitem esse tempo consigo mesmos. O filme "Ao Entardecer", que está em cartaz aqui em Salvador, é um belíssimo exemplo do poder da arte (no caso, o cinema), em traduzir a alma humana.

Aos meninos, é bom deixar claro que esta fita do diretor húngaro Lajos Koltai é contada sob o ponto de vista feminino, apesar dos sentimentos expostos na trama não se reduzirem ao universo das mulheres. Para as garotas, conta a favor saber que "Ao Entardecer" é baseado no livro homônimo da escritora americana Susan Minot, além do dream team de atrizes escolhidas para o elenco: Meryl Streep, Glenn Close, Toni Collette, Vanessa Redgrave, Claire Danes, Natasha Richardson.

Algo que chama atenção no filme é como o diretor conseguiu extrair dessas mulheres geniais, que nunca estiveram todas reunidas antes em uma mesma película (sem deixar de esquecer algumas pequenas parcerias como Glenn Close e Meryl Streep em A Casa dos Espíritos, que me deixam sem fôlego até hoje) uma total intimidade e cumplicidade na tela, como se todas fossem de fato, mães e filhas, amigas intimas e confidentes de uma vida inteira umas das outras.

A trama tem como elemento chave o crepúsculo, essa hora do dia que tanto nos fascina e assusta. Há quem fique melancólico com a morte de um dia para o outro, há os que captam a poesia do pôr-do-sol e o ciclo da renovação que começa outra vez, e mais outra, infinitamente.

Ao Entardecer capta, como poucas vezes vi na sétima arte, a encantadora simplicidade de um crepúsculo. A morte, não do dia, mas da personagem principal (vivida por Vanessa Redgrave na maturidade), marca o recomeço e a redescoberta da esperança para aqueles que, como uma das filhas dessa protagonista, perdeu a capacidade de acreditar.

A fotografia é comovente. As cenas delicadas e de uma força arrebatadora. Dizer que o filme faz refletir é chavão, mas ele faz. Deixa uma marca indelével e profunda, daquelas que só as nossas recordações mais caras conseguem deixar. Diante de Ao Entardecer, perdemos o medo de encarar o passado, deixamos de ansiar desesperadamente o futuro e encontramos a serenidade necessária para viver o crepúsculo de cada dia.

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