sábado, 11 de outubro de 2008

"Fogueira das vaidades"


Da série, coisas de menina

Fiquei esperando meus neurônios explodirem e se abrirem em grandes e brancas flores de pipoca. "Nalva, esse secador está fritando meu cérebro!!". A resposta, depois de um muxoxo: "que nada, você não é macho não?". Deu vontade de responder que não era, nem anatomicamente e muito menos psicologicamente. Mas, suspirei e tentei pensar em paisagens geladas. "Não estou num salão de beleza, estou na Sibéria. Esse barulho no meu ouvido não é o secador, mudei de paisagem, estou diante de um mar revolto, assisto ao balé das ondas e seus golpes marciais em um rochedo. Esse cheiro de pêlo de cachorro queimado não é o meu cabelo. Voltei no tempo, é uma cerimônia tribal, estão queimando juba de leão para dar força e valentia na próxima caçada..." Pausa nos meus devaneios provocados pelo cheiro de produto químico - é a tal escova inteligente - não quero nem saber o que tem dentro dessa fórmula. A voz de Nalva. "Pronto chorona, acabou. O cabelo tá lisinho, lisinho..." - Susto diante do espelho: "uau, virei a mariana ximenes, só que morena!" Penso em Rita Lee, "mulher é um bicho esquisito, todo mês sangra", cantarolo e corcordo. Mulher é mesmo um bicho esquisitíssimo, não importa se é a perua que aparece nas colunas sociais ou a pseudo-escritora-jornalista, todas tem um destino comum: a chapinha. Os motivos podem variar. O da perua, provavelmente tem relação com lábios a la angelina jolie e seios de pamela anderson. Os meus (motivos, não seios), a praticidade dos cabelos curtos e lisos. Lavou, sacudiu, tou pronta pra mais um dia na redação. Ficar parecida com a fátima bernardes? hummm, eu queria era o salário dela. "Mentira, tem outro motivo" - me diz a voz do Al Pacino em Perfume de Mulher: "Toda vez que uma mulher muda o próprio cabelo alguma coisa mudou dentro dela". É verdade, alguma coisa mudou dentro de mim. Alguma coisa que só eu e um colega de trabalho percebem: "Você mexeu no cabelo!" - Engraçado ele dizer isso, homem geralmente não repara em detalhes tão insignificantes. A explicação é biológica e antropológica. Os homens tem a visão abrangente dos caçadores, as mulheres, por sua vez, possuem a capacidade de enxergar nas entrelinhas. Imagino que não devia ser nada fácil cuidar da cria em um mundo inóspito, morando em cavernas onde existiam insetos que comeriam bebês neanderthais no café. Como tudo na vida, a chapinha aponta para uma só direção, a preservação da espécie. Somos animais, de qualquer modo, só que vestidos e maquiados. Mas o segredo é simples: auto-estima. Tem dias que você se olha no espelho e diz, olá belíssima, pronta para encarar mais um dia? Vai agarrar touros à unha? Rir na cara das pautas mais difíceis? Responder as indagações do seu chefe com perspicácia e uma sagacidade de dar inveja. Outros dias, sem piedade nenhuma, é o espelho quem diz, sem a menor cerimônia, "volte para a cama e não saia de lá até a próxima lua cheia". Auto-estima é o que leva as mulheres ao salão de beleza. Ao inferno, literalmente, da chapinha, quente como a morada de belzebu! O desejo de sentir-se bem consigo mesmas. Chamar atenção de meia dúzia de mancebos na rua é só consequência, mas a briga real é com o espelho, todas as manhãs. "Quero ver você me mandar de volta pra cama agora, seu maldito, com este cabelo, eu conquisto o mundo!".

Nenhum comentário: