Da série, "essas leituras que você pensa ter tido"
Um anjo e o seu oposto perderam o anticristo na maternidade. As conseqüências do descuido e a idéia da criança concebida para levar o mundo à perdição, crescendo por aí sozinha, sem sofrer as boas e nem as más influências, são o mote usado pelos escritores britânicos Neil Gaiman e Terry Pratchett para contar uma versão hilária e muito particular do apocalipse. Aziraphale (o anjo) e Crowley (a serpente do paraíso) estão na terra há seis mil anos e não gostam muito da idéia de vê-la destruída. Os dois tenentes, de céu e inferno, precisam garantir que o plano divino e inefável se realize: que este mundo vire cinzas e dele um outro novinho renasça. O problema é decidir quem vai mandar no novo mundo, se o exército do céu ou se os comandados do inferno. Outro problema: nem o anjo e nem o demônio que tentou Eva querem um mundo diferente deste onde vivem há tantos milênios. Não é que eles não queiram obedecer seus superiores (inferiores no caso de Crowley), mas eles se apagaram ao mundo e às pessoas. A missão era muito simples, pegar o filho de Satã e trocá-lo de lugar com o recém-nascido do embaixador americano. O anticristo tinha de ser criado nos EUA - taí uma coisa que acho perfeita, em filmes sombrios como A Profecia ou em histórias bem-humoradas como Belas Maldições, o filho do Demo tem de ser sempre criado como americano. Sinal de que o senso-comum mundial (e não é pouca coisa) acredita piamente que todo mal vem sempre de lá. Hummm...nem todo mal, houve vozes dissidentes. Basta uma rápida olhada na história e salvam-se as almas de escritores, revolucionários, cantores, diretores de cinema, atores...Essa boa gente (qualquer dia escrevo um post sobre eles) salva a América de ser um colapso completo de banqueiros e senhores da guerra. Voltando ao livro, não terá a mesma graça contar o que aconteceu com esse anticristo criado longe das hostes celestiais e infernais. Sabe-se lá que tipo de coisas uma criança com super-poderes pode aprender sendo criada longe dos padrinhos divinos ou satânicos e totalmente entregue nas mãos da humanidade. Um dos momentos mais interessantes do livro, que mistura história, cotidiano e cultura contemporânea, é quando o demônio Crowley (fascinado em colecionar carros antigos) conversa com o anjo Aziraphale (colecionador de livros raros) e diz que nem o príncipe das trevas seria capaz de conceber algo como a bomba-atômica ou a inquisição. Em matéria de maldades, humanos dão de dez a zero no capeta. Vale a pena ler e descobrir que o armagedon está a um passo de cada um de nós, isso eu garanto. Também não vou dizer se o apocalipse acontece exatamente da forma que foi planejado, até porque, quem sou eu para dar pitaco nos planos inefáveis de quem me rege, guarda e governa?
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