Cresci ouvindo histórias. Antes de dormir, eu e minha irmã disputávamos para ver na cama de quem minha mãe sentaria naquela noite para contar uma nova aventura. A solução era simples e só as mães conseguem enxergar soluções assim tão óbvias. Uma cadeira no meio do quarto, entre as duas camas, e as histórias fluiam 50% para cada lado. Quando faltava luz, as histórias ganhavam o contorno da chama das velas e dos dedos que milagrosamente viravam personagens refletidos nas paredes.Cinema, foi uma coisa que só descobri quando era crescida. Depois, aprendi a contar histórias. Minha irmã, quando não conseguia dormir, pedia para contar "aquela história da origem do mundo". Parte da narrativa vinha das aulas de geografia e biologia da escola. A outra parte era imaginação mesmo. Antes de chegar nos homens-primatas, ela dormia no meu colo. E no dia seguinte, a história tinha de começar do começo novamente...
Um dia tive um filho. E como ele não gosta muito de dormir, - agora que sou uma trabalhadora noturna até começo a entender o motivo -, comecei a contar histórias para ele. Tem umas só de gozação, sobre as aventuras de um biscoito de chocolate que foge do pote na cozinha e vive vários apuros na tentativa de não ser comido. Tem a do príncipe Rajá, que pouco a pouco, vou tirando da inconsistência do reino das histórias e publicando no outro blog (Estação de Sonho). E tem também a história do menino que não gostava de dormir, que é recente. Em todas, não há nada de original ou revolucionário. A maioria tem base no que li, ou vi, ou vivi. Mas espero transmitir o ato de contar histórias ao meu filho, para que um dia ele também coloque o filho dele para dormir da mesma forma. A leitura de Haroun, um pequeno libelo à liberdade de expressão e uma homenagem de 250 páginas aos contadores de histórias, me mostrou que talvez, seja hora de dividir as fantasias criadas para Matheus, com outras crianças. Quem sabe...
Nenhum comentário:
Postar um comentário