quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
O abominável mundo dos camarotes
Há mais de um mês é impossível transitar pelo centro de Salvador, no trecho que se estende entre a praça do poeta (Castro Alves) até a avenida Ademar de Barros, em Ondina. São os tais dos 25 quilômetros da "Cidade Efêmera do Carnaval". Por ser efêmera a gente até se resigna a suportar dias tormentosos entre meados de janeiro e o começo de março, quando as famigeradas estruturas carnavalescas empurram pedestres para o meio da pista. No entanto, nada me impede de bradar para a minha meia dúzia de fieis leitores, o quanto me irrita viver em Salvador nessa época do ano. Com todo respeito à tradição milenar do Carnaval, - aliás iniciei até uma série sobre a história da festa lá no Conversa de Menina -, quem reclama aqui neste espaço agora é a cidadã, moradora de Salvador e não a jornalista que tem de cobrir a festa por força da profissão. Gente, eu odeio Carnaval com cada célula do meu ser. Acho a festa horrível, as músicas de gosto duvidoso, detesto multidões suadas se espremendo e trocando bactérias. Mas durante a festa é simples conviver com ela. Moro quilômetros longe dos circuitos da folia. Trabalho em uma zona da cidade que mal vê ecos carnavalescos em foliões tardios que dormem nos ônibus. Nem uma notinha de axé music, graças ao deus protetor da boa música. Mas, centro da cidade é centro da cidade e por mais que a gente tente, não há como fugir de transitar por essas áreas nos dias que antecedem essa versão fake das antigas lupercálias e dionisíacas. Pois bem, durante a montagem da cidade efêmera do carnaval, atos prosaicos do cotidiano como ir ao banco, ir ao médico, fazer o cooper matinal que ajuda a manter o AVC e o infarto distantes, tornam-se impossíveis. Engarrafamentos monstruosos, barulho ensurdecedor com o baticum da montagem das tais estruturas, mudança nos roteiros dos ônibus porque tal rua foi fechada para o bloco passar...O pior é que todo ano a imprensa escrita, virtual, televisiva e radiofônica faz matérias mostrando os transtornos do Carnaval para a vida do cidadão comum, mas o efeito é semelhante ao do desabafo neste blog. Apenas serve como catarse coletiva de um mal que, por falta de planejamento adequado, é dos tais sem solução.
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2 comentários:
Sorte sua, Andreia, que não precisa da massa como matéria prima para produzir seus textos. Tudo é tão repetitivo nesse carnaval baiano que você, se quiser, pode usar os mesmos textos do ano passado escritos para retratar o carnaval soteropolitano. Eu, infelizmente, tenho que ir pro meio do rebanho, que obedece ao aboiar do algum idiota cantor,ou cantora, de trio, pra capturar minhas imagens.Detesto essa privatização do espaço público tomado por blocos de cordas e camarotes. Eu sinto um desejo retado de ver essa massa um dia cantado a música Disparada de Geraldo Vandré e Theo de Barros. Sonhos....
Sonhos...mas vamos sonhar querido amigo e boa sorte, mire certeiro nas cenas carnavalescas que ninguém mais vê e que para você com sua sensibilidade quase de vidente, se revelam sem mistérios.
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