...na Bahia tem precedente". A frase do ex-governador Otávio Mangabeira, tantas vezes usada e abusada, serve mais uma vez de introdução para a minha série pessoal de desgostos com a humanidade. Só leio jornal ultimamente por obrigação. Pra um jornalista admitir isso é doloroso, acreditem.
Notícias do dia que estragam o café da manhã:
1 - Polícia suiça questiona gravidez de brasileira agredida e não cita em relatório de ocorrência que a motivação da agreção foi racismo. Que lindo, agora, vamos desviar o foco da mídia para o fato da moça espancada e marcada com estiletes estar ou não grávida. Me respondam aí, o fato dela ter ou não perdido os bebês, o fato de existirem ou não bebês, muda o fato de que uma mulher foi espancada por três caras, marcada com golpes de estilete e humilhada? Daqui a pouco, anotem aí, vão dizer que a tal moça estava na Suiça se prostituindo, como se isso mudasse o fato de que uma mulher foi agredida, de que um ser humano foi agredido. Já vi que em matéria de atendimento às vítimas de violência, quando elas são do sexo feminino, principalmente, a Suiça e o Brasil se equivalem e acreditam que a culpa é da vítima.
2 - Pelos lados de cá a notícia é mais dramática. João Henrique Carneiro, alcaide de Salvador, declarou em rede nacional que vai usar o dinheiro da merenda escolar e dos remédios nos postos de saúde para pagar o Carnaval. Outra beleza de notícia. A uma altura dessas, já larguei minha caneca de café com leite e desisti do pãozinho quente com manteiga. Será que o prefeito não sabe que para muitas crianças paupérrimas dessa terra, ir à escola não representa apenas alimentar-se de conhecimento, mas ter a chance de matar a fome física, de pão? A hora da merenda é a única refeição decente que essas crianças vão ter o dia inteiro, mas é preciso patrocinar o Carnaval, garantir que o turista, talvez os suiços, vejam muitas brasileiras semi-nuas dançando na avenida e por isso saiam daqui acreditando que a primeira "vagabunda brazuca" que eles encontrarem em Zurique merece ser retalhada com estiletes.
2 comentários:
Ele, o João, consegue se superar.
O João Henrique acabou assumindo uma prática que deve ser utilizada há muito tempo. O pior é que não adianta receber dinheiro do Estado ou de quem quer que seja, pois a Prefeitura leva até oito meses para pagar prestadores de serviço.
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